LORENA - Terra das Palmeiras Imperiais

LORENA
Terra das Palmeiras Imperiais

“A identidade da cidade vai moldar-se a partir da adoção dessa linguagem - solene e transbordante de monumentalidade... e, durante boa parte do século XX, a cidade adota como lema a frase: Terra das palmeiras-imperiais.” ROSELI MARIA MARTINS D'ELBOUX

D'ELBOUX, Roseli Maria Martins. Uma promenade nos trópicos: os barões do café sob as palmeiras-imperiais, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. An.mus.paul.,São Paulo, v.14, n. 2, 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142006000200007&lng=en&nrm=iso >


A cidade de LORENA, no Vale do Paraíba, homenageia com seu nome ao ilustre Governador da Província de São Paulo, Bernardo José de Lorena, 5º Conde de Sarzedas, que elevou-a à categoria de Vila em 1788. Lorena desenvolveu-se extraordinariamente no século passado com a cultura do café e com a produção de açúcar e, por sua brilhante contribuição à nobreza do Império, várias de suas personalidades foram agraciadas com títulos: o Conde de Moreira Lima, o Barão da Bocaina, a Viscondessa de Castro Lima e o Barão de Santa Eulália, entre outros. Há quem diga que Lorena foi uma miniatura da corte, tal o luxo, o fausto e as lutas de que foi palco no século XIX.

ORIGENS

Índios Puris, os primeiros habitantes do Vale.

Os indígenas do Vale do Rio Paraíba do Sul, entraram em contato com o homem branco numa das primeiras expedições a percorrer o vale, sob o comando de Domingos Luis Grou, por volta do ano de 1587. Os índios Puris, vinculados ao Grupo Macro-Jê, habitavam grande parte do Vale e pelo seu território passava o Caminho velho da Estrada Real, o Caminho do Ouro que, iniciando em Parati, atravessava a garganta do Embaú e transpunha a Serra da Mantiqueira em direção às Minas Gerais. Às margens do rio havia a aldeia de nome Guaypacaré, que segundo Teodoro Sampaio significa, "braço ou seio da lagoa torta", em virtude de um braço do rio Paraíba que ali existia ou, "lugar das goiabeiras", conforme Azevedo Marques, para a variação "Hepacaré". Em 1695, o bandeirante Bento Rodrigues Caldeira alí fixou moradia, dando início às plantações, tão importantes na época, para o abastecimento dos viajantes. No ano de 1702, foi concedido a João Castilho Tinoco o contrato de passagem pelo Rio Paraíba e o porto de Guaypacaré, parada obrigatória para descanso de bandeirantes, viajantes e tropeiros, torna-se um entroncamento de caminhos: as tropas vindas de Minas podiam dirigir-se a São Paulo ou, vencer a serra de Quebra-Cangalha, descer pela serra do Mar, alcançar os portos de Parati, Mambucaba ou Ubatuba e seguir por mar para o Rio de Janeiro. O primeiro núcleo de povoação surgiu por volta de 1705, junto às roças de Bento Rodrigues, onde foi erguida a pequena capela da Piedade de Guaypacaré, filiada à Igreja Matriz de Santo Antonio da Vila de Guaratinguetá. Em 1718, o Arraial do porto de Guaypacaré foi elevado à Freguesia de Nossa Senhora da Piedade e a capela, elevada a Matriz, cedeu lugar para uma igreja maior.

Lorena em 1822 (Pintura de Jean Baptiste Debret)

O CAMINHO NOVO DA PIEDADE

No final do século XVIII, daí parte o Caminho Novo da Piedade, ligação terrestre entre São Paulo e a Corte que transforma o local em importante centro de articulação entre as três províncias - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aberto entre os anos de 1725 a 1778, ligou as Capitanias de São Paulo e do Rio de Janeiro por via terrestre, facilitando as comunicações entre as duas capitanias e o transporte do ouro das "minas velhas" de São Paulo e das minas de Mato Grosso e Goiás que seguiam de Paraty, por via marítima, para o Rio de Janeiro. O caminho novo da Piedade evitava o perigoso litoral fluminense, sempre freqüentado por corsários.

O CAMINHO NOVO DA PIEDADE
Ligação por terra da província de São Paulo com a Corte no Rio de Janeiro

Em 14-11-1788, Bernardo José de Lorena, governador da Província de São Paulo, eleva a Freguesia de N.S. da Piedade à categoria de vila, com o nome de Vila de Lorena e em 24-04-1856, a Vila é promovida a cidade, mantendo o seu nome até os dias atuais.


A CATEDRAL DE N.S.DA PIEDADE

A religiosidade e a fé católica sempre estiveram muito presentes entre a população de Lorena. Desde os tempos coloniais, foram construídos importantes monumentos que representam hoje a memória viva dos seus dias de esplendor e adornam com brilhantismo os recantos históricos da cidade.

Catedral de N.S. da Piedade

O Arquiteto e Engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo, projetou e dirigiu as obras da Catedral de Nossa Senhora da Piedade, inaugurada em 01-01-1890. Para a sua construção, foi aberto um “Livro de Ouro”, onde estão registradas assinaturas com doações em dinheiro de Dom Pedro II, da Imperatriz Dona Tereza Cristina, da Princesa Isabel e do Conde D'Eu que, na época, visitaram Lorena.
Ramos de Azevedo, que também projetou o Teatro Municipal de São Paulo, diz:
“É um templo, em suma, de puro estilo romano, todo ele incombustível, solidamente construído, em condições de atravessar séculos, e não demandando senão de poucos trabalhos de conservação”. (Rodrigues, 2002, p. 84)

“Meditação do Engenheiro Ramos de Azevedo”
(por Péricles Eugênio da Silva Ramos, “Lua de Ontem”, pág. 58):
“Severa e poderosa com sua torre única, alta de deixar embaixo o topo das palmeiras, adotarei para esta igreja o estilo romano. Nas paredes contra as quais não prevalecerá o fogo, assim como não prevalecem as portas do inferno contra oração e trabalho, nas paredes deixarei longas frestas para vitrais, e por dentro os ecos deslizarão no mármore das colunas e do altar, nos lampadários e na cúpula. Farei um templo não sem maiores ambições, porém com um ar de catedral: pressinto para ele as bênçãos do futuro. Quanto a um só ponto mostro-me indeciso: não sei para que lado volte a frente da minha Catedral. Para a região da serra onde o sol desponta? Para as montanhas onde o sol se põe? É para oeste que a cidade está crescendo, mas fica a leste a casa da senhora Viscondessa, bem como o Rio Paraíba, pai da velha povoação. Pra que lado voltarei a face do meu templo? Não minha Catedral não poderá voltar as constas para o rio, nem para a Mantiqueira, que um e outra eram caminho e porta para as Minas: à beira-rio ainda se vê o marco das Bandeiras, o porto onde a cidade teve origem. Não, filha alguma poderia voltar as costas para o pai. Logo, se tenho no devido apreço o Rio Paraíba, se lhe demonstro acatamento e reverência, percebo que o futuro há de entender-me e dar-me apoio. Para o ar portanto, ó minha Catedral, ó filha bem-amada que ostentarás por entre o incenso mármores e pratas, como este céu tão puro ostenta garças e andorinhas. Tu ficarás, ó minha Catedral, e eu partirei: defende-me, querida, diz meu nome com teus ecos, recorda-me em teus mármores e pratas; assim os ramos dessas árvores evocam a brisa que nos vem do rio, cheia de um gosto de água, flor do campo.”

Palmeiras-imperiais no largo da Matriz de N.S.da Piedade
Lorena -1930 Acervo do Museu Paulista da USP

Em 1884, são plantadas as palmeiras-imperiais no largo da matriz. A plantação obedece à disposição "em renque" seguindo o modelo da famosa aléia existente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que tanto impressiona seus visitantes. Também aqui o efeito causa impacto: as palmeiras emolduram a nova Matriz, elevando todo o largo a uma escala monumental, ao dirigir o olhar do observador ao alto, aos céus.


A Igreja Matriz de N.S. da Piedade, de frente para o rio Paraíba, no exato local da fundação de Lorena. Curiosamente, a mudança do leito do rio e o desenvolvimento da povoação, que se expandiu para o Leste, fizeram com que ela ficasse de costas para cidade.

A construção da capela de N.S.da Piedade na fundação de Lorena.
Tela do artista cachoeirense Nelson Lorena, de 1956.
Do acervo da Casa da Cultura de Lorena

SANTUÁRIO BASÍLICA DE SÃO BENEDITO.

SANTUÁRIO DE SÃO BENEDITO

Magnífica construção em estilo gótico, sendo de estilo barroco o seu interior, com projeto final do arquiteto francês, Carlos Peyronton. Os materiais empregados na sua construção vieram da Europa, e os objetos sacros, guardados hoje no Museu de Arte Sacra do Santuário, foram expostos na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, devido à sua rara beleza. A idéia da edificação nasceu na antiga Irmandade de São Benedito, criada em 1852, da qual se tornou membro o Conde de Moreira Lima, com a doação de 50 contos de réis para a construção. Inaugurado, somente em 1884, contou com a presença da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Em 1917, no pontificado do Papa Bento XV, tornou-se o único Santuário Basílica de São Benedito existente, ao ser agregado à Basílica de São Pedro, em Roma. Assim, os fiéis que visitam o Santuário da Basílica Menor de São Benedito em Lorena, recebem, de acordo com as leis canônicas, as mesmas indulgências daqueles que visitam a Basílica de São Pedro em Roma. De 1868 até hoje, são 140 anos passados desde as origens da sua construção e sob seu altar jazem os despojos de seus benfeitores, o Conde Moreira Lima e sua esposa.

No livro “Lua de Ontem”, página 62, Péricles Eugênio da Silva Ramos, publicou o poema “Torres de São Benedito”, como se fosse o Conde Moreira Lima a descrevê-las:
“(...) Imagens, pratarias, alfaias, paramentos, obras de talha, mármores das balaustradas, tudo mandei buscar nas capitais do Império e até da Europa; também de França veio o hábil arquiteto que meditou e ergueu as naves, as capelas, as duas torres de meu templo gótico. (...).“

SÍMBOLOS CÍVICOS DO MUNICÍPIO

BRASÃO DA CIDADE DE LORENA


Evoca os principais fatos de Lorena, antiga Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, na região da aldeia de Guaypacaré povoada pelos índios Puris, às margens do rio Paraíba do Sul. A peça principal do escudo, a barca, ao natural, sobre um rio prata, em campo azul simboliza a travessia do rio, junto às roças de Bento Rodrigues, pelos bandeirantes que iam em demanda da Serra da Mantiqueira e das terras dos "Cataguás", que vieram a ser Minas Gerais. No alto do brasão, aparecem cinco escudetes, dos quais, o do centro se avantaja aos demais. É este o do Conde de Sarzedas, Bernardo José de Lorena que, sendo capitão general de São Paulo, deu à Guaypacaré o predicamento de Vila, sob o nome de Lorena. Os dois escudetes à destra, trazem a flor de lis e a cruz, atributos da heráldica portuguesa e caracteres patronímicos de Rodrigues e Pereira, primeiros povoadores das terras do atual município, Bento Rodrigues e João de Almeida Pereira. Os dois de senestra, evocam, com as arruelas e a esfera dos escudos dos Castros e Fialhos, a ação civilizadora de iminentes povoadores da região: os capitães-móres Manoel Pereira de Castro e Domingos Antunes Fialho. Do escudo central, brasão do Conde de Sarzedas, pende de uma laçaria e de um anel, a cruz heráldica chamada "de Lorena", constituindo as "armas falantes" do município. Como tenentes, à destra um bandeirante com seu gibão de armas característico, armado de arcabuz e à senestra, um soldado da guarda nacional da província de São Paulo em 1842, evoca a vultosa intervenção de Lorena na Revolução Liberal, dominada pelo Barão de Caxias. Sobre o entrançado de hastes de cana, a principal cultura do município, inscreve-se num listão a divisa: Patriae Magnitudini (Pela grandeza da Pátria). Ao alto, sobre o centro da coroa mural destaca-se um escudete azul com uma flor de lis, a evocar que o orago de Lorena é Nossa Senhora.

BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE LORENA


A Bandeira do Município de Lorena é um pavilhão de fundo vermelho, tendo no centro, em primeiro plano, a flor-de-lis, sobreposta à cruz de Lorena, em segundo plano. O vermelho e o branco, simbolizam as cores da Casa do Conde de Sarzedas, Bernardo José de Lorena que, na qualidade de Capitão General da Província de São Paulo, outorgou à antiga Freguesia de N.S.da Piedade, a graduação de Vila, com o nome de Lorena. A flor-de-lis, em plano de absoluto destaque, evoca a pureza da Padroeira de Lorena, Nossa Senhora da Piedade. A Cruz de Lorena, em negro, sua cor heráldica original, representa a fé cristã do povo lorenense. Adotada oficialmente por Lei Municipal de nº 507 em 09-08-1965, foi entregue ao município, em cerimônia realizada na Câmara Municipal, em 14-11-1966.

A bandeira de Lorena é de autoria de Ricardo Gomes Figueira, nascido em Lorena no dia 15 de novembro de 1941, filho de José Gomes Figueira e Maria Zeneide Figueira. Publicitário e jornalista, venceu o concurso para a criação da Bandeira de Lorena, símbolo da cidade oficialmente adotado em 1965. Ingressou no Banco do Estado de São Paulo, onde aposentou-se como Assessor de Marketing  e trabalhou na Prefeitura Municipal de São Vicente. Em 2003, voltou para Lorena, onde permaneceu por quatro anos, até retornar para a cidade de Santos, onde reside.


HINO DA CIDADE DE LORENA

Clique para ouvir e/ou baixar a gravação do Hino da Cidade de Lorena, executado pela Banda do 5º BIL - Batalhão de Infantaria Leve do Exército de Lorena.



HINO DA CIDADE DE LORENA

Letra: Francisco Ferreira Leite
Música: Pe. Fausto Santa Catarina

I

Guaypacaré das eras coloniais
Surgida no roteiro das "bandeiras"
Que escalaram sertões e cordilheiras
A demandar as minas cataguases.
Do Paraíba à margem, teus pioneiros
Erigiram à Virgem uma ermida,
E entre bênçãos a terra protegida
Na Vila Hepacaré fez suas bases.

Refrão

Oh! Terra das Palmeiras Imperiais,
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!

II

Do solo teu que o braço escravo arou,
Brotaram verde-rubros cafezais,
E pelo Vale, imensos canaviais,
Do teu progresso indústrias se tornaram.
Os teus heróis que a história consagrou ·
Batalharam por nobres ideais,
Na jornada imortal dos Liberais,
Intrépidos os filhos teus tombaram!

Refrão

Oh! Terra das Palmeiras Imperiais
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!

III

Do teu passado, rico em tradições,
Cantamos no teu hino toda a glória,
Na exaltação da tua bela história,
A esta gente brava e varonil.
E contemplando as tuas gerações,
Oh! Lorena de outrora e do presente
Te confiamos nobre sonho ardente:
O esplêndido futuro do Brasil

Refrão

Oh! Terra das Palmeiras Imperiais
Velho berço de Condes e Barões,
Ninguém de ti se esquecerá jamais,
Ao reviver as tuas tradições!




*Agradecemos à Vanda Guimarães, funcionária da Casa da Cultura de Lorena, por ceder-nos a gravação do Hino de Lorena e demais informações sobre os Simbolos Cívicos da Cidade.


*****

4 comentários :

marcelo lemos disse...

Gostaria de esclarecer que os Puris não tem nada com os Tupis, nem língua e nem costumes, eles estão vinculadas ao Grupo Macro-Jê. Estavam presentes em várias regiões ao longo do Rio Paraíba do Sul, nos estados de SP, RJ, MG e ES, e ainda hoje tem descendentes pelo Vale do Paraíba.
Se puder corrigir o texto, eu agradeço.
Marcelo Sant'Ana Lemos

milton lorena disse...

Obrigado Marcelo, quem agradece sou eu. Está feita a correção.

Danielle disse...

Sr Milton, admiro seu trabalho, sou lorenense e gostaria de colaborar com algumas informações.
O estilo da construção do Santuário Basílica Menor de São Benedito é neo-gótico e não estilo gótico, porque foi construída depois do período gótico e não possui o mesmo tamanho da construção de uma catedral gótica, daí o nome de Basílica Menor.
Sobre o fato da Matriz ter ficado de costas para o centro da cidade, o que colaborou para isso foi a chegada da ferrovia.

Um abraço.

Danielle D'Angelo - Historiadora

milton lorena disse...

Muito obrigado, Danielle
Foram feitas as suas correções.
abraços